sexta-feira, 23 de maio de 2014

Metro só para mulheres

Dentro do Metro
Finalmente aventurei-me a andar de Metro rumo ao centro da cidade. Ouvi dizer que era muito lento e perigoso mas depois de já ter andado de autocarro (ônibus como eles dizem) na zona da Mangueira e subido a rocinha com um taxista 'faveleiro' pensei que sobreviveria andar umas quantas estações no Metro.

Eram oito da manhã quando entrei na primeira carruagem indicada por um segurança que ali se encontrava. Tinha algumas passageiras mas ainda muitos lugares vazios e a cada estação que parávamos só entravam mulheres. Achei estranho mas pensei ser coincidência. A viagem decorria tranquilamente, com mulheres a ler em ipads, mulheres a maquilhar-se, mulheres a ouvir música....só mulheres. Quando chego ao meu destino, estação Uruguaiana, é que vejo o sinal que indicava que naquela carruagem só podiam entrar mulheres!

Na plataforma junto à linha
É a primeira vez que vejo isto e já andei de Metro em Espanha, França, Itália, China e, claro, Portugal. Acho uma ideia genial porque bem me lembro em Lisboa, nas horas de ponta, sentir aquele roça roça de certos tarados ou olhares muito constrangedores. Até houve uma vez que seguia na linha amarela do Marquês de Pombal para a Cidade Universitária e um homem de sobretudo dentro do Metro pôs-se de frente para a porta com o 'dito cujo' na mão e a massajar-se!
Rua Candelária

Imagino que aqui no Rio tenham acontecido episódios de assédio tão ou mais sérios que este para assumirem esta medida. Quando comentei com uma colega de turma esta minha 'descoberta' fiquei ainda a saber que os seguranças que se encontram junto aos vagões só para mulheres chegam mesmo a tirar lá de dentro os homens "distraídos" que entram.

Igreja Nossa Senhora da Candelária
A viagem durou apenas 25 minutos (de autocarro é uma hora) e quando saio da estação e percorro a Rua da Alfândega em direcção ao Centro Cultural do Banco do Brasil para uma aula prática parece que estou numa cidade europeia! Senti-me bem ao caminhar por aquelas ruas e dei umas voltas extra pelos quarteirões da zona para admirar o ecletismo da arquitectura. Edifícios altos contrastam com igrejas do estilo barroco e centros culturais neoclássicos. Largas avenidas cruzam finas estradas que vão dar a pequenas praças...Fiquei com vontade de conhecer mais e melhor por isso é definitivamente um sitio para voltar!

quarta-feira, 21 de maio de 2014

Osmar "O" taxista

Sr. Osmar da Silva
O taxi é o meio de transporte mais seguro e também o mais caro aqui no Rio. Para quem, como eu, opta quase sempre por esta segurança tem de estar preparado para apanhar todo o tipo de condutores: simpático, carrancudo, asneirento, mudo, prestável, amoroso, ladrão, cómico...enfim, é sempre uma surpresa. E hoje a surpresa foi boa! Ao sair da escola apanhei o taxi do Sr. Osmar, "neto de português", "da família Silva, de Lisboa", como o próprio se apresentou depois de eu ter descrito todo o percurso que queria que fizesse para conseguir chegar a casa ao mesmo tempo do Guilherme que vem da creche no transporte escolar.

Carta de motorista
"Você sabe o caminho todo direitinho", disse o Sr. Osmar a rir. E eu expliquei: "É que infelizmente tem colegas seus que só pensam em enganar o cliente. A pior experiência que tive foi quando estava cá há umas semanas apenas e tive de apanhar um taxi no meio da noite para o hospital porque o meu bebé não parava de vomitar e o taxista andava às voltas comigo a dizer que não sabia o caminho e a fazer-me gastar tempo e dinheiro".

Sr. Osmar: "É menina, infelizmente tem gente assim...mas não entendo como alguém quer enganar você que é tão simpática e bonita?"

Mensagem de Camila Pitanga
Nem eu nem ninguém Sr. Osmar, pensei para comigo, isso é pura malandragem para qualquer pessoa e por isso agora antes de ir para algum lugar vejo no mapa os percursos possíveis.

Com esta história o Sr. Osmar deu-me algumas dicas de segurança a respeito dos taxistas e mostrou-me a sua licença de taxista que tirou em 1975, que na altura compreendia "aulas de atendimento ao cliente".

Vin Diesel agradece a corrida de taxi
Entretanto falámos de Portugal, das nossas famílias, do Rio, de emprego, e apesar da viagem ter sido curta o Sr. Osmar ainda me mostrou dois cadernos de mensagens deixadas por alguns dos seus passageiros. Ao folhear os cadernos encontrei simpáticos recados em inglês, francês, italiano e chinês e entre eles (espantem-se!) um da actriz brasileira Camila Pitanga e um do actor norte-americano Vin Diesel!

Chego a casa e nem dei pela viagem de vinte minutos que faço todos os dias. Sem dúvida que este é "O" taxista que quero voltar a encontrar. Caso para lhe dar uma gorjeta e dizer (ao estilo carioca): valeu!



quinta-feira, 15 de maio de 2014

Mundo sem fim


Primeira visita técnica no Passeio da Cidade
Esta mensagem não é sobre os livros de Ken Follett. Este 'mundo sem fim' de que vos vou falar é aquele que descobri esta semana com o meu regresso à escola, desta vez, de turismo.

E porquê um curso de guia de turismo? Porque gosto de pessoas, de entreter, adoro viajar e quero conhecer histórias interessantes para depois reproduzi-las. Agora que escrevo isto apercebo-me que é um bocado aquilo que me levou a ser jornalista...

Confesso que tenho saudades do jornalismo, mas como no momento não posso exercer a profissão aproveito para entrar numa área que também sempre me aliciou, a do turismo.

A ideia não surgiu da noite para o dia. Já quando estávamos emigrados na riviera francesa pensei no assunto pois recebi muitos familiares e amigos para quem criei roteiros nos quais incluía explicações sobre determinados monumentos e acontecimentos históricos e fazer isso foi algo que me deu muito prazer.

É engraçado, nesta altura o meu marido trabalhava no Mónaco mas vivíamos em Menton, que fica a dez minutos de comboio. E em nove meses que lá vivemos fiz oito roteiros turísticos ao Mónaco para as nossas visitas e conheci lugares que nem o meu próprio marido chegou a ver.

Com a minha turma à porta do CIETH na Rua das Marrecas
De volta ao Brasil...nesta primeira semana de aulas sinto-me literalmente uma esponja a absorver todas as informações à minha volta. Não sei se é porque há mais de um ano que não trabalho ou porque há muitos que não frequentava uma escola que vejo isto como um 'mundo sem fim', mas o que é certo é que o novo olhar que me proporciona abre um extenso corredor de possibilidades onde não enxergo o final.

quinta-feira, 8 de maio de 2014

Naquela manhã eu era o Indiana Jones!


A trilha no Corcovado é uma aventura mais do que recomendada. Já tinha ouvido falar desta forma de chegar ao cartão postal número um da cidade, a estátua do Cristo Redentor, mas também me disseram que seria muito duro e exigiria alguma preparação. Fiquei a matutar nisto alguns meses e finalmente ontem decidi abraçar o desafio mesmo sem nunca ter feito nada do género.


A altitude da montanha é de 704 metros começando no Parque Lage (lugar ao qual dedicarei outro post) e a distância total são 2.240 metros até o topo. 

Logo à partida quase me perco pois o início da trilha não está bem assinalado, assim como todo o caminho no qual só encontrei três placas. Ao perguntar a direcção certa aos seguranças do parque consegui chegar ao bem dito local.

Antes de começar a trilha deve-se passar por uma pequena cabana ainda no Parque Lage e dar ao segurança que lá se encontra o nosso nome e um número de telefone de emergência caso algo aconteça. O senhor perguntou se estava acostumada a fazer este tipo de coisas pois a trilha era "muito dura" e consideravelmente "perigosa". Respondi que era a primeira vez e pedi-lhe um mapa, ao que ele me negou por não ter nenhum e com cara de gozo desejou-me "boa sorte".

Fiquei a pensar que utilidade tem este segurança se nem um mapa ou conselhos pode dar a alguém que vai fazer a trilha. E se no final da mesma não está ninguém a registar a saída dos caminhantes, para quê ficar com o registo dos nomes?...

Cheia de adrenalina decidi tomar o caminho saindo à direita da cabana. A mata era um pouco fechada mas felizmente o caminho era único e não havia como me perder. Após cerca de 20 minutos de caminhada fácil encontrei a primeira cascata de água bem fresca. Outros 20 minutos decorridos, um segundo riacho e o início de outra trilha, esta mais íngreme e de difícil acesso. Aqui começou a aventura pois foi preciso fazer escalada e usar o apoio de troncos de árvores para ganhar impulso e/ou equilíbrio. Pensava que esta parte era curta e a cada 20 metros olhava para cima à procura do fim mas este só veio uma hora e meia depois! 

No entanto, a compensação foi bem grande pois deu para aproveitar as belas vistas que a natureza oferecia e ainda ter um encontro 'cara a cara' com um mico-estrela-de-tufo-branco que veio comer uma uva-passa na minha mão. 

Continuando o caminho, surge a hora de escalar umas pedras com a ajuda de uma corrente. Quase no topo cruzo com o trilho do Bondinho (o comboio que leva os turistas ao Cristo) e continuo pela mata atlântica mais um pouco até chegar a uma estrada e cinco minutos depois estou aos pés do Redentor. 

Foram duas horas e vinte minutos de caminho que não achei assim tão difícil. Mas confesso que depois de toda a trilha acidentada e avistando lá de cima a distância percorrida senti que naquela manhã eu era o Indiana Jones!