Foi-nos dito que tínhamos de fazer um agendamento na polícia federal do aeroporto internacional do Rio de Janeiro para fazer o passaporte da nossa filha. Pagámos uma taxa e esperámos (a módica quantia) de trinta dias para sermos atendidos. No dia chegamos ao aeroporto com todos os papéis que nos instruíram serem necessários e é-nos informado que antes de tirar o passaporte temos de requisitar uma pesquisa social que comprove que a nossa filha é mesmo nossa e isso significa que a polícia teria de enviar um ofício para a maternidade e outro para o cartório para comprovar tal facto, mesmo que tivéssemos em mãos a certidão de nascimento e os laudos médicos do parto. Esses ofícios seguiram via e-mail e demoraram 45 dias (módica quantia!) a ficarem prontos. E assim o foi porque dia sim dia não telefonava para a polícia federal, para a maternidade e para o cartório para saber do andamento do processo. Finalmente três meses depois conseguimos tirar o passaporte da Júlia (que, vá lá, demorou uma semana a ficar pronto) e podemos voar para a 'terrinha'. É angustiante ser emigrante e estar impotente diante das próprias vontades, esperar tanto tempo para poder reunir toda a família em Portugal que já não vejo há quase um ano. Estou feliz e ansiosa mas também confesso que agora que seguro os nossos passaportes na mão sinto alguma estranheza e melancolia pelo facto de três serem portugueses e um brasileiro. Acho que pela primeira vez compreendo literalmente a (triste) verdade que os filhos quando nascem é para o mundo, não nos pertencem. Assim o é: a Júlia saiu de dentro de mim mas ela é filha da (outra) nação.
Ouvimos muitas histórias de amigos e familiares espalhados pelo mundo e pessoalmente nunca me canso de saber mais. Nestas histórias aprendemos e crescemos. Algumas comparações culturais fazem-nos rir, outras entristecem-nos, mas o importante mesmo é partilhar. Por isso resolvi criar este espaço para contar as minhas "aventuras" na esperança de poder ajudar quem se encontra na mesma situação ou simplesmente divertir quem vive uma realidade diferente.
terça-feira, 22 de setembro de 2015
Filha da (outra) nação
Nasceu uma carioca portuguesa. Contrariando as estatísticas de 80% de partos cesariana no Brasil, consegui dar à luz de parto natural e bastante rápido a meu ver (cinco horas), apesar de ter tido o tempo todo uma equipa médica que me tentava convencer que a cirurgia era o melhor, que a bebé era grande de mais, etc. O próximo passo, agora que rejubilávamos de alegria com mais um membro na família, era tratar da papelada para irmos a Portugal mostrar o novo rebento. Mal sabíamos que uma nova saga estava por começar...
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