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Capa do livro |
Não me
surpreende que a maior parte dos brasileiros (ou portugueses) não saiba que
Carmen Miranda era portuguesa. Mas acho um absurdo que um (aqui considerado)
conceituado jornalista escreva na capa da biografia da cantora: "A vida de
Carmen Miranda, a brasileira mais famosa do século XX". Vamos esclarecer:
Carmem Miranda foi famosa sim, mas brasileira é que não. A "pequena
notável", como era chamada, nasceu em Portugal, em Marco de Canaveses, em 1909.
Filha de pais também portugueses, veio para o Brasil com dez meses de idade e
nunca se naturalizou brasileira. Pode ser uma figura meio esquecida hoje mas
Carmen Miranda é considerada por muitos como a inventora da musica popular
brasileira e trouxe a público uma série de representações que acabaram sendo
incorporadas à identidade nacional do Brasil. Assim, mesmo quem não conhece a sua
história é capaz de identificar a sua imagem colorida, cheia de bijuterias, o
enorme turbante de frutas e algumas das suas canções como “Tico-tico No Fubá”,
“O Que É Que A Baiana Tem?”, ou “Taí”. É engraçado que durante a sua carreira
no Brasil, a cantora construiu uma imagem nacional, inspirada em representações
regionais da Baia, através das suas canções lisonjeiras do povo e das belezas
naturais, discurso também presente nos filmes de temática carnavalesca em que
participou. Essa imagem foi acolhida pelos cariocas, favorecendo a sua emergência
como símbolo nacional. E quando foi para os Estados Unidos da América, Carmen
transformou-se efetivamente na ‘baiana’ exótica e tropical que toda a gente
passou a conhecer. Nos anos 40, as opiniões sobre a artista eram divergentes, existia
orgulho pelo sucesso que alcançou nos Estados Unidos da América, mas também
decepção por não interpretar o papel que o Brasil gostaria. Depois de morrer
(1955), Carmen Miranda continuou a ser assunto em jornais e revistas durante
muito tempo. E ainda que hoje não o seja, a sua imagem representa cenários de
um estilo vida que muitas vezes é comercializado como brasileiro.