quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

Ólhó quilo da pêra (só) a 8 euros!


Azeite, bacalhau e vinho. Eis os três principais produtos que o Brasil mais importa de Portugal. Mas e as frutas e os legumes? O que existe aqui no Rio de Janeiro que hoje venha de terras lusas?

A resposta é difícil porque se recuarmos no tempo, após o início da colonização organizada do Brasil pelos portugueses, por volta de 1530, ocorreu um grande processo de troca de plantas, entre elas as hortaliças. Além de diversificar a alimentação, estas introduções serviram de material básico para o melhoramento genético na adaptação destas espécies às condições do solo e clima brasileiros. Exemplos disso são a manga, o coco, e a jaca que, ao contrário do que muita gente pensa, inclusive brasileiros, não são originários do Brasil, mas introduções feitas graças aos navegadores portugueses que trouxeram as sementes do lado oriental do mundo. Outras introduções promovidas pelos colonos, navegadores e jesuítas portugueses tornaram-se indispensáveis à culinária regional em algumas regiões brasileiras. Exemplo disso é a tradicional couve mineira, herança de um dos produtos mais representativos da culinária portuguesa que criou raízes profundas no solo mineiro devido à forte presença lusa na província das Minas Gerais durante o ciclo do ouro.

A vinda da família real portuguesa e sua comitiva, em 1808, promoveu a produção e consumo de produtos portugueses em maior escala. Ao assumir a rotina diária, os portugueses sentiram falta de seus alimentos e passaram cultivar couve, cenoura, cebola, batata, alface, entre outras hortaliças. Esta demanda e a resultante abundância de hortaliças no Brasil durou pelo menos até à época imperial.
Portanto, alguns produtos agrícolas hoje no Brasil têm como que uma descendência portuguesa assim como os próprios brasileiros. Por isso mesmo, muitos alimentos passaram a ser cultivados aqui ao invés de serem importados de Portugal; à semelhança da população que cresceu de tal maneira que deixou de ser necessário virem para cá portugueses a fim de povoar a região. De facto, com a diminuição da imigração portuguesa para cá diminuiu também a importação de produtos nacionais que atendia às necessidades e desejos desses imigrantes. E os que cá ficaram e constituíram a suas famílias habituaram-se ao que havia e ao que foi surgindo.

Hoje em dia, o que podemos comprar de alimentos frescos num supermercado ou nas feiras semanais aqui do Rio que seja importado de Portugal restringe-se basicamente a um produto: a pera rocha (aqui designada de pera portuguesa). Para além disso, eventualmente, conseguimos encontrar ameixas, pêssegos, maçãs, nectarinas e castanhas.

De todas as frutas importadas, a pera é considerada uma das mais consolidadas porque caiu no gosto dos brasileiros. O Brasil tentou produzi-la para consequentemente reduzir as importações, mas problemas técnicos como a falta de cultivares adaptados, porta enxertos e outras dificuldades fisiológicas da planta tornam a produtividade irregular. Diante disso, o país ainda depende muito da pera estrangeira. Para nós portugueses fica difícil pagar entre três a oito euros o quilo desta fruta, mas de vez em quando, para matar a saudade, lá vai.