Azeite, bacalhau e vinho. Eis
os três principais produtos que o Brasil mais importa de Portugal. Mas e as
frutas e os legumes? O que existe aqui no Rio de Janeiro que hoje venha de
terras lusas?
A resposta é difícil porque se
recuarmos no tempo, após o início da colonização organizada do Brasil pelos
portugueses, por volta de 1530, ocorreu um grande processo de troca de plantas,
entre elas as hortaliças. Além de diversificar a alimentação, estas introduções
serviram de material básico para o melhoramento genético na adaptação destas
espécies às condições do solo e clima brasileiros. Exemplos disso são a manga,
o coco, e a jaca que, ao contrário do que muita gente pensa, inclusive
brasileiros, não são originários do Brasil, mas introduções feitas graças aos
navegadores portugueses que trouxeram as sementes do lado oriental do mundo. Outras
introduções promovidas pelos colonos, navegadores e jesuítas portugueses
tornaram-se indispensáveis à culinária regional em algumas regiões brasileiras.
Exemplo disso é a tradicional couve mineira, herança de um dos produtos mais
representativos da culinária portuguesa que criou raízes profundas no solo
mineiro devido à forte presença lusa na província das Minas Gerais durante o
ciclo do ouro.
A vinda da família real portuguesa
e sua comitiva, em 1808, promoveu a produção e consumo de produtos portugueses em
maior escala. Ao assumir a rotina diária, os portugueses sentiram falta de seus
alimentos e passaram cultivar couve, cenoura, cebola, batata, alface, entre
outras hortaliças. Esta demanda e a resultante abundância de hortaliças no
Brasil durou pelo menos até à época imperial.
Portanto, alguns produtos
agrícolas hoje no Brasil têm como que uma descendência portuguesa assim como os
próprios brasileiros. Por isso mesmo, muitos alimentos passaram a ser
cultivados aqui ao invés de serem importados de Portugal; à semelhança da
população que cresceu de tal maneira que deixou de ser necessário virem para cá
portugueses a fim de povoar a região. De facto, com a diminuição da
imigração portuguesa para cá diminuiu também a importação de produtos nacionais
que atendia às necessidades e desejos desses imigrantes. E os que cá ficaram e
constituíram a suas famílias habituaram-se ao que havia e ao que foi surgindo.
Hoje em dia, o que podemos comprar
de alimentos frescos num supermercado ou nas feiras semanais aqui do Rio que
seja importado de Portugal restringe-se basicamente a um produto: a pera rocha
(aqui designada de pera portuguesa). Para além disso, eventualmente, conseguimos
encontrar ameixas, pêssegos, maçãs, nectarinas e castanhas.
De todas as frutas importadas,
a pera é considerada uma das mais consolidadas porque caiu no gosto dos
brasileiros. O Brasil tentou produzi-la para consequentemente reduzir as
importações, mas problemas técnicos como a falta de cultivares adaptados, porta
enxertos e outras dificuldades fisiológicas da planta tornam a produtividade
irregular. Diante disso, o país ainda depende muito da pera estrangeira. Para
nós portugueses fica difícil pagar entre três a oito euros o quilo desta fruta,
mas de vez em quando, para matar a saudade, lá vai.