sexta-feira, 20 de maio de 2016

Malandragem e ‘jeitinho’ brasileiro: mea (nossa) culpa?

Muito tenho lido, nos últimos dois anos, sobre a história do Brasil e mais especificamente sobre o nascimento da cidade do Rio de Janeiro. Ainda tenho uma longa estrada pela frente no que toca à compreensão disto tudo mas das leves conclusões que vou conseguindo tirar destaca-se a raiz histórica da corrupção.

Não sei se devemos considerar que o brasileiro é corrupto por natureza e que por isso o Brasil não tem solução, ainda que faça parte do carácter nacional a promiscuidade entre os interesses públicos e privados, o desrespeito pelas leis e o famoso 'jeitinho' (malandro) brasileiro.

A corrupção existe em todo lado, é certo, mas aqui parece-me 'ter asas para voar' dada a desorganização da sociedade, a fraqueza das instituições, a falta de mecanismos que controlem os abusos e o poder excessivo de alguns lobbys. Já escrevia Paulo Prado em 1928 (mas que parece hoje): "O Brasil, de fato, não progride; vive e cresce, como cresce e vive uma criança doente no lento desenvolvimento de um corpo mal organizado".

O Brasil é um país muito jovem na construção da cidadania e nota-se que ainda é marcado pelo seu passado analfabeto, escravista e concentrador de riquezas. Talvez o espírito corrupto que vemos na cidade e no País possa de facto estar ligado ao pelo modo como se operavam os negócios aquando da colonização portuguesa. Vejam os exemplos que alguns historiadores referem: Quando o D. João VI transferiu a sede da coroa portuguesa para o Rio (1808) ganhou a melhor e maior casa da cidade, onde se situa hoje o Palácio da Quinta da Boa Vista, no bairro de São Cristóvão, de um grande traficante de escravos, Elias António Lopes, que foi um dos homens que mais enriqueceu e ganhou títulos de nobreza com este óptimo negócio. Foi também nesta época que nasceu a prática da “caixinha” para onde eram desviadas comissões de todos os saques e pagamentos do Erário Real (actual Tesouro Nacional).

Será mesmo mea (nossa) culpa este estado de corrupção que vai desde a Presidência à favela? Parece-me que o passado não é desculpa para que a corrupção se perpetue hoje mas, como disse no início, ainda me falta um longo caminho pela frente para compreender tudo isto (o Brasil).