Voltar. Regressar. Retornar.
Várias palavras com o mesmo significado e uma carga emotiva tão variada. Decidi
terminar este percurso de emigrante e tentar a sorte naquele que é o país do
meu coração: Portugal. Dizem que está difícil, mas parece-me difícil em todo o
lado. Ao menos aqui em casa não estou sozinha. Família e amigos são a minha
riqueza e não quero mais viver a vida longe disso. Sem poder partilhar as
vitórias e as derrotas do dia-a-dia, especialmente neste momento que sou mãe de
duas crianças pequenas e as surpresas são constantes.
É difícil dizer adeus a
algumas (poucas) pessoas que no Rio de Janeiro fizeram-me sentir querida, mas a
felicidade de dizer olá a muitas outras facilita tudo. A experiência de
emigrante, e agora refiro-me não só aos três anos no Brasil mas ao primeiro ano
em França, foi muito enriquecedora. Tive oportunidade de conviver com culturas
diferentes e por isso aprender não só a respeitar mais as diferenças que
existem como a apreciar mais a minha própria cultura. Tive de aprender a
adaptar os meus gostos alimentares ao que havia e descobri alimentos
espetaculares como passei meses sem ver à frente uma bela dourada grelhada ou
um bom pão como tanto gosto. Vi coisas que nunca pensei que fosse ver como
senhoras a passear os seus cães em carrinhos (de bebé); carruagens de metro só
para mulheres; ascensoristas; crianças de quatro anos a vender panos na rua à uma
da manhã...
Cresci a bem e a mal. Com
coisas agradáveis e desagradáveis, como deve acontecer em todo lado, mas sendo
emigrante, estando sozinha, é um processo que ganha uma dimensão astronómica.
Dei o meu melhor para ser feliz e fui, porque o sou enquanto alimento a minha
curiosidade. Havia mais para fazer? Para descobrir? Sem dúvida. Nem uma vida,
nem várias, é suficiente para se chegar a algum lado e como já percebi que
nesta vida que temos não chegamos a lado nenhum mesmo só quero que a viagem
seja divertida e ao lado de todos os que me fazem sentir feliz.